Do silêncio à vida

Antes de existir o filme, já havia música. Ninita nasceu em 1910, no dia da passagem do cometa Halley, e desde criança fez do piano sua forma de existir. Cresceu entre partituras e afetos. Ali, familiares, vizinhos e amigos se reuniam em torno do piano que embalava as tardes do Poço da Panela. Entre eles, Heitor Villa-Lobos, que também tocou naquela sala e deixou sua marca na história da casa. Mais de um século depois, o mesmo instrumento inspira a trilha original do filme. Composta exclusivamente para piano, ela não serve às imagens, as antecede. É a música que dá vida ao silêncio, que desperta o verde, que conduz o tempo e as emoções. Minimalista, delicada e autoral, ela é presença, não fundo. Cada nota é um gesto de continuidade. A trilha traduz o som de Ninita, a mulher que transformou sua casa em melodia, e agora, em filme, voltou a ser ouvida.

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